domingo, 28 de agosto de 2011

A areia da ampulheta


Há uns meses atrás - em maio pra ser mais preciso - ouvi de uma colega no dia do meu aniversário uma frase que, de início me pareceu bastante engraçada, mas depois provovou em mim uma profunda reflexão. Não exatamente pelo que ouvi, mas posso dizer com certeza que aquilo foi o ponto de partida. Em meio a alguns parabéns daqui, abraços de lá, ela - que é conhecida por seu jeito peculiar de viver, sempre "na dela" - apertou a minha mão e me disse:  "- É.. parabéns! não sei porque a gente parabeniza, né? afinal é um ano a menos que a gente tem de vida a partir de agora.."
Isso me causou umas boas risadas na hora, continuei brincando com ela e, no calor dos abraços, não cheguei a pensar muito sobre aquilo. Só alguns meses depois, após de ter ouvido um professor falando sobre a nossa liberdade em decidir como "gastar" a nossa vida, é que todas essas peças foram se encaixando e eu comecei a pensar sobre como tenho usado a minha vida.
Se pensarmos que Deus já sabe quando nossa aventura na terra vai terminar, já sabe o dia exato em que iremos sair dessa dimensão, a frase de minha colega parecer ter mais sentido. Nossa vida é decrescente, e essa contagem regressiva começa no exato momento em que nascemos.
 Eu me lembro do quanto a sensação de ver um relógio em contagem regressiva pode ser particularmente angustiante. Em um filme de ação, as bombas prestes a explodir são potencialmente apavorantes na medida em que o seu relógio de contagem regressiva está cada vez mais próximo do fim. Nos grandes eventos como nas Olimpíadas ou uma Copa do mundo de futebol é comum que se instale um relógio nas cidade-sede para a contagem regressiva do início do evento, isso também aumenta a expectativa da chegada do grande dia.
Se em todas essas situações  a idéia de que o tempo só diminui e fica cada vez mais apertado pode nos mobilizar tanto, quer seja em um evento esperado ou em uma bomba prestes a destruir tudo, o que dizer do mais poderoso desses relógios? Do relógio que anuncia o 2º evento mais importante de sua vida física: que é o fim dela? Do relógio que liga o dia em que você nasceu ao dia em que tudo isso aqui vai ter fim, ao menos pra você.
Quando imagino o relógio de minha própria vida em contagem regressiva não consigo conter minha angústia, não consigo me livrar do peso que é pensar na possibilidade de estar jogando muito do meu tempo fora, usando ele em coisas sem sentido. Não vou cair na vala comum de achar que só tem sentido aquilo que "parece belo e romântico" aos nossos olhos, quando falo de coisas com sentido ainda não me refiro à filosofia de vida "Haribobo" regada à Pedro Bial e seus poemas, ou a C. F. Abreu e suas receitas pra aproveitar melhor a vida. Eu sou adepto do sentido nas coisas simples e nem tão belas ou glamurosas, ainda acredito no valor das pequenas e tão subestimadas experiências, e sei que delas também temos vivido. Mas é o bastante? Será que eu viveria uma vida medíocre (aqui no sentido não-pejorativo e sim de mediana) se soubesse que ela vai ter fim na semana que vem?
O relógio já está contando, e no meu caso ele está aí há mais de 2 décadas, eu não tenho ideia em que estágio ele está, talvez eu nem consiga terminar esse texto, talvez não termine a minha semana, talvez nunca conclua a faculdade, talvez não chegarei a saber a sensação de construir uma família, ser pai, ou talvez eu tenha bisnetos.
A questão de que já não consigo fugir é esta: Eu gastei minha vida da melhor maneira possível até agora? E termino minha reflexão com um ideal que eu quero perseguir: Usar a minha vida como se o meu relógio indicasse não mais do que poucos dias para chegar ao fim, como se a ampulheta que conta os meus dias estivesse com poucos grãos por cair.
"Atendei agora, vós que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer, Se o Senhor quiser, não só viveremos, como faremos isto ou aquilo." Tiago 4: 13-17
Ps: Esse texto é introdutório, tem continuação nos próximos post's.
Uelington Rocha

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