quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sobre o que vestimos..


Eu admito que não sou de comprar roupas, normalmente ganho de algum parente, dos meus pais, amigos, e só de último caso eu saio com intenção de adicionar mais uma peça a meu guarda-roupa. Mas, nesses casos raros - quando me vejo escolhendo alguma roupa – antes de olhar o preço ou o tamanho dela, eu procuro pensar em que ambientes eu vou usá-la. Se é uma roupa pra se usar durante o dia, na faculdade, em situações informais, ou se é uma roupa que usarei na igreja, em algum evento importante, coisas do tipo. O importante é que eu já aprendi que cada situação exige uma roupa, cada lugar ou ocasião também. Não há nada de errado nisso, são nossas convenções sociais, e é muito natural que se reproduza isso no nosso dia a dia. A roupa que saio no domingo à noite não é a mesma que vou usar pra dormir quando chegar em casa; não é confortável, é por isso que nossas roupas são feitas por “encomendas” são próprias de situações específicas.
Contudo, minha intenção não é discutir etiqueta, deixo isso pra quem entende do assunto (não é o meu caso... hehe). Eu estava pensando sobre a vida cristã e me lembrei das roupas. Assim como as calças, blusas, camisas, saias, sapatos, que usamos no nosso cotidiano, lançamos mão também sobre outras formas de nos vestirmos: os papéis sociais. Cada um tem um, e a maioria de nós tem vários. Eles dizem respeito à forma como nos “vestimos socialmente” para compor determinado grupo, trocando em “miúdos”, é o papel que desempenhamos em relação ao nosso grupo. Já parou pra pensar que agimos diferente a depender da situação? Se estou na casa de meus pais, sou “filho”, sou “irmão” e com eles eu tenho um jeito peculiar de me relacionar. Mas se estou na faculdade, visto minha roupa de estudante, não sou lá como sou em casa. Estando em uma pizzaria, lanchonete com alguns amigos, não estou mais vestido nem como filho, nem como irmão, e nem como estudante... sou amigo, e, embora carregue muito de minha essência com todas essas vestimentas, elas não são iguais.
Nada disso de incomoda, isso não é errado, é natural. São nossas estratégias para sobreviver na dinâmica social em que estamos inseridos. Foi quando me lembrei de mais um papel social: o papel de cristão. É aquela vestimenta que uso quando vou à igreja, ao evangelismo, a um show evangélico, o a qualquer atividade do gênero. Mas espera aí? Ser cristão é um papel social? Eu sei que nossos cientistas sociais e do comportamento podem dizer que sim! Há um lugar reservado pra quem é cristão nessa gama de papéis de que nossa sociedade organizada dispõe. O lugar pra ele já está bem acomodado, nós temos mercados específicos, gradações, hierarquias, rótulos, preconceitos,  estereótipos,  perseguições, sentimento de pertença, poder, estatuto, direitos, deveres, tudo o que um grupo social tem direito.
Eu sei que a essa altura do campeonato muita gente pode não ter visto nada de errado nisso, “é assim que deve ser” dirão alguns. Nós transferimos a lógica das vestimentas sociais pra nossa vida cristã, tornamo-la mais uma vestimenta, e apenas uma vestimenta. Vamos ao trabalho a deixamos em casa, vamos à escola e a deixamos em casa, vamos à faculdade e a deixamos em casa, vamos fazer compras e a deixamos em casa. Tornar a vida cristã uma roupa, trouxe consigo outra mentira: a de que podemos ser imparciais, principalmente se nossa profissão depende disso. Já que estamos vestidos com nossas roupas de Psicólogos, advogados, Sociólogos, Filósofos, Teólogos, Historiadores, podemos muito bem deixar essa vestimenta cristã um pouco de lado, ela não combina com todo tipo de roupa. Nos enganamos achando que temos “campo neutro” para aceitar outras formas de admitir a vida só porque estamos vestidos à caráter, com nossas profissões “imparciais”, com nossos olhares “neutros”.
Se você acha que estou sendo radical, é porque você ainda acredita que ser cristão é realmente uma vestimenta social, e não é! Ser cristão é trocar de pele! Por mais que usemos qualquer roupa por cima, não podemos tirar nossa pele, nossa essência. Se eu sou, se você é cristão, entraremos em qualquer lugar e não conseguiremos nos desnudar disso! Qualquer um que tenha rebaixado o “ser cristão” a uma função social apenas, está desqualificando o reino ao qual Cristo nos apresentou. Pelo que sei, esse reino não segue nenhuma das regras desse mundo, têm sua dinâmica diferente, e não é confundido com uma roupa que se coloca e se tira assim que for conveniente. Atentemos pra isso!
Uelington Rocha