quarta-feira, 21 de março de 2012

SONDA-ME, SENHOR!

É comum nas orações fazermos muitos pedidos a Deus. Pedimos para nos ajudar em alguma prova,  intercedemos pelas pessoas ao nosso redor, clamamos por proteção, pelos nossos relacionamentos, pedimos força pra continuar nos pés do Senhor, e assim se seguem uma lista de petições e desejos que entregamos nas mãos do Senhor em oração ou em cânticos. Mas é em Davi que encontro uma das mais belas e corajosas petições. Ele, depois de fazer uma interessante análise sobre a onipresença de Deus, não resiste e expressa: “Sonda-me, ó Deus. E conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mal e guia-me pelo caminho eterno.” (Salmos 139. 23-24)
 Se observarmos bem todo o capítulo 139, é possível perceber Davi Exaltando Deus pelo poder de conhecer todas as coisas, de conhecê-lo tão profundamente, ele diz: “ Senhor, tu me sondaste e me conheces. Tu conhece o meu andar e o meu deitar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces.”
Davi reconhece a soberania de Deus no seu viver, mas essas verdades expressas por ele não são de sua escolha, o poder é de Deus, ele o faz e isso é externo a Davi. Mesmo que Davi rejeitasse que Deus o conhecesse, não seria possível, pois Deus é Deus, e não é moldado por homens, ele é conhecedor de tudo, não há como fugir.
 Davi então se expressa: “Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que eu não a posso atingir. Para onde irei eu do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face? Não havia lugar que o isentasse dos olhares do Senhor, ou tentativas de se esconder de Deus que não fosse frustrada. Por reconhecer isso, talvez alguém diga; “Por isso se mantinha santo,  ou por isso louva a Deus, ele sabia que Deus estava vendo tudo e não podia fugir disso”.
Mas Davi deseja tanto agradar a Deus, que o mesmo deseja ser conhecido profundamente por ele, Davi não tentou fugir dos olhos de Deus como Caim, Não se escondeu em cavernas ou viver em temor por saber que Deus cercava o seu viver, ao contrário ele desejou ser visto não apenas exteriormente , mas interiormente quando pede para que Deus o sonde, ele amava ser conhecido por Deus, amava ser guiado por Deus. Sabia do poder que os desejos do seu coração exerciam sobre ele, por isso deseja mais de Deus, por isso deseja que Deus o Sonde sempre. Não apenas porque Deus tinha o poder para isso e ele não podia fazer nada para mudar esse fato, mas porque ele desejava agradar a Deus de todas as maneiras. Ser visto todos os instantes, não significava tortura ou vigilância acirrada, sem espaço para ele fazer o que desejasse, ou roubo de sua liberdade.
Sondar, no sentido expresso por Davi vem da palavra sondas que teve primitivamente o valor de cavar, e se aplicaria à procura de jóias preciosas.  No dicionário sondar significa examinar ou explorar com sonda. Investigar, pesquisar, Avaliar, calcular, inquirir cautelosamente. Assim, Davi pedia a Deus para ser cuidadosamente investigado, avaliado. Ele agora dava total permissão a Deus de ir ao mais profundo do seu ser e perceber cada área da sua vida, os seus sentimentos, suas emoções, seus desejos, seus medos. Ser sondado por Deus era também a oportunidade de ser mais fiel, de querer que o próprio Deus, que o conhecia mais do que ele mesmo, o ajudasse seguir no caminho eterno. 
Ele desejava ser sondado, ter o seu coração e pensamentos profundamente conhecido por Deus. E a partir daí poderia perceber melhor os seus caminhos, “ e vê se há em mim algum caminho mal”, é o clamor dele, e assim seguir um caminho reto, de paz, de sinceridade, de amor, de verdade, de comunhão, de aborrecimento ao pecado, ou seja um caminho eterno e quem o conduziria seria o próprio Deus.
Quando leio esse pedido de Davi, pergunto-me se sou capaz de desejar ser questionada por Deus tão intimamente, não apenas pelo poder que Ele tem e não está sob o meu controle, mas pelo desejo de agradá-lo de condicionar os meus conceitos, minha maneira de ver o mundo,  na sua palavra, na sua vontade, se confio Nele a ponto de desejar ser guiada por  um caminho eterno, mas nem sempre entendido e compreendido. Santo, mas questionado e ignorado pelos homens. Puro, mas difícil. Justo, mas sofrido. De paz e segurança, mas não ausente de tristezas e dores. De fé, mas de paradoxos e mistérios. De muitos ganhos, mas de renúncia. De entrega, mas de perdas. De amor, paz e transformação, mas que exige renúncia de mim mesma, do Eu.
Ter a coragem de desejar e pedir a Deus para ter pensamentos, coração, todo o seu ser conhecido e sondado intimamente, e então ser moldado para trilhar em caminho eterno, não é tarefa fácil, ainda mas sabendo do potencial que o “Eu” tem em seguir por caminhos maus e pecaminosos. Ser investigado, cavado, pesquisado deve causar dor, arrependimentos, desconforto, constrangimento, mas o resultado disso é paz, perdão, santidade e salvação, e o melhor de tudo um caminho trilhado com Deus, para Deus e em Direção a Deus.
 Meu amado Senhor, conhece o meu coração e meus pensamentos. Vê por onde está trilhando o meu coração, em que estradas têm passado os meus pensamentos, por onde os meus sonhos têm feito sua rota. O itinerário do meu viver está te exaltando?
Sonda-me Senhor, esse é o meu pedido e minha escolha, pois só assim viverei em retidão, só assim o orgulho não me dominará, só assim a tua vontade será o meu alimento de dia e de noite. Assim, poderás encontrar valor e preciosidades em mim.
Elizama Lima

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A verdade que não comporta outras

“Não existe certo nem errado, todo mundo tem razão, e o ponto de vista é que é o ponto da questão”.  Qualquer um que defenda um ideal ou alguma coisa em que acredita, encontra como primeiro enfrentamento a barreira do “ponto de vista”. O “Ponto de vista” é aquele lugar que faz da sua convicção “mais uma convicção”, ou uma convicção que só existe e é verdadeira se vista de determinado ponto de vista, ou seja, se for vista do ponto onde você está, por isso ela é a sua verdade. Isto coloca as pessoas em lugares diferentes, enxergando coisas diferentes, cada um à sua maneira e deslegitima uma verdade que seja consenso ou absoluta em si mesma, porque toda verdade parece ser vista de um determinado ponto específico, e por isso, ele é dependente do famoso “ponto de vista”. Não vou negar que isso tudo que eu disse seja verdade - não só pelo meu ponto de vista - porque se todos nós temos “pontos de vista” diferentes, o mínimo que podemos fazer além de defender o nosso é admitir que existam outros.
Cara! Eu realmente sou dependente do ponto de vista. Todos nós somos, porque somos limitados. Por mais que você tente, não vai conseguir olhar pra frente e pra trás ao mesmo tempo, nem olhar pra esquerda e pra direita ao mesmo tempo. Ou você se concentra em um, ou no outro, não dá pra ter uma visão 360º. Fomos criados com essa limitação, e ela é proposital. Ela está aí pra nos lembrar que seremos sempre dependentes do lugar de onde estamos olhando. Você não vai conseguir olhar a rua se você estiver trancado no seu quarto. E lá, onde você está preso talvez você arrisque opinar sobre o tempo lá fora, mas nunca terá a credibilidade de quem está lá fora, com os olhos abertos vendo o tempo. Aposto que nada do que eu disse é novidade pra você, isso está mais do que óbvio, mas é sobre como o óbvio nos cega com relação ao mundo “não visível” de que eu quero falar.
Nós parecemos contagiados por nossas limitações físicas e subjetivas e usamos a mesma lógica pra tratar do mundo espiritual. De acordo com a ótica do “ponto de vista”, essa convicção que você tem de que existe vida após a morte, que há julgamento com conseqüências eternas, e de que um livro pode ser capaz de indicar o único modo de ser viver com garantia de salvação, só é verdade se vista sob o seu ângulo, ou seja, o mundo até admite que é verdade, mas classifica como SUA Verdade. E desse modo ela não é a única verdade, porque olhando por outros pontos de vista pode-se chegar a outras verdades tão convincentes quanto a sua. Tem mais, quando se admite que há outras verdades, e que a sua verdade é fruto de um ponto de vista, as “verdades” são acomodadas num nível que obedece a lógica humana de compreender verdades, de tolerar e aceitar as diferenças, da convivência pacífica entre essas verdades. Esse parece ser o ideal de mundo, um mundo onde finalmente as diferenças convivam em harmonia e se aceitem mutuamente, porque nesse mundo “perfeito” o homem finalmente compreenderia que ele não é capaz de sustentar uma verdade absoluta e que o ideal é aceitar que sua verdade é irmã das outras verdades, e elas todas formam a grande família que se chama “diversidade humana”.
É desconfortável dizer isso, mas, essa é uma mentira muito ardilosa arquitetada por aquele que já sabe que a melhor maneira de combater a única verdade absoluta não é com enfrentamento, mas forjando “outras verdades” que coloquem ela como um de seus pares, como uma versão, como mais uma dentre outras verdades.
Isso porque quando Jesus Cristo diz: “ e conhecereis A VERDADE e A VERDADE vos libertará”, ele não deixou dúvidas de que ele é a única verdade. E essa verdade – que é absoluta em si mesma – não comporta verdades concorrentes, porque toda e qualquer outra verdade se sente nua diante dela. Nós, quando fabricamos nossas verdades, fazemos isso sob a tutela do ponto de vista, porque somos dependentes dele, mas a Bíblia é capaz de nos mostrar uma verdade forjada por aquele que detêm todos os pontos de vista, que é capaz de enxergar dimensões que sequer passam por nossa imaginação, aquele que tem a visão perfeita e se fez a verdade perfeita, a única.
Qualquer que se diz seguidor de Jesus - e por conseguinte seguidor da verdade -  mas admite outras verdades em relação a salvação, ainda não foi contagiado pela Verdade genuína e inconfundível. 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Em Meu Quarto Confortável...

O que você prefere?

1.      Por uma hora, ficar em pé ou sentado?
2.      Dormir até mais tarde ou acordar cedo?
3.      Ir a pé ou de carro para algum lugar?
4.      Dizer ou ouvir “eu te amo!”?
5.      Ser questionado ou ser aplaudido?
6.      Sorrir ou chorar?



Perguntas que com certeza eu e você sabemos a resposta sem nem precisar pensar muito, porque em nossas preferências está inserido o desejo pelo que é mais confortável o que exige menos de nós ou que com que nos sintamos melhor. Nada de errado nisso. Mas tal tendência de sempre desejarmos o que nos dá mais conforto, do que mais alimenta nosso ego, pode se refletir também na vida cristã. E aí está a minha angústia.

Assim, fico aqui pensando no meu quarto confortável, escrevendo em um notebook, lendo uma bíblia digital, ouvindo música cristã, com um celular do meu lado, depois de ter conversado com amigos e irmãos pelo MSN, assim que cheguei da universidade onde estou prestes a terminar um curso de quatro anos, que me faz desejar ter um emprego que recompense o tempo e dinheiro que gastei durante o curso para que eu tenha condições aquisitivas e comprar o que desejo sem depender dos outros e concomitante com isto pregar nas igrejas e falar de Jesus para as pessoas, e quem sabe continuar no departamento de missões fazendo cultos que revelem a necessidade de praticá-la e ao terminar sentir aquela angústia de que falamos mais do que agimos. É aí que emerge aquele desejo latente de pregar o evangelho em um lugar distante onde seja exclusivamente esse o motivo do meu viver: ganhar almas. É quando me dizem que posso ganhar almas aqui mesmo em Coité, onde fica minha casa que tem o meu quarto confortável, que sempre tenho meus pais e parentes por perto e posso visitá-los sempre que desejar, porque tem carro na minha garagem e uma biz, que um dia levei uma queda por falta de atenção, momento que poderia ter morrido ainda com 22 anos, porque nasci em maio de 1989 aqui mesmo em Coité onde hoje moro, depois de morar em cinco cidades, onde fica a minha casa, que tem meu quarto que de tão confortável às vezes nem levanto cedo para ir a EBD na igreja , local onde ouço tanto sobre vitória e prosperidade e que sou especial que só me faz querer ficar aqui mesmo no meu quarto confortável sonhando com o que posso conquistar na vida acadêmica ou social e quem sabe depois de ganhar muito dinheiro para ajudar alguém que precise, porque aí já terei minhas casas , meus carros, a roupa que desejar para ir aos cultos , festas, congressos e shows evangélicos de cantores que eu sou fã e que cobram milhares para cantar algumas músicas durante algumas horas, para pessoas que se conformam em apenas ouvir falar o nome de Deus e até se sentem bem em exaltá-lo e cantar louvores a Ele, mas estão ali mais pelo entretenimento do que pela verdadeira adoração ao Deus que enviou seu único filho para morrer pelos pecados, que alguns até esqueceram que existe de tanto se conformar com o mundo. Mundo que um dia vai acabar junto com tudo o que construímos, construções feitas a partir de uma vida confortável, com sonhos medíocres sem prioridades eternas, eternidade que vai muito mais além de alguns anos de vida aqui na terra, em que nem mesmo a vivemos em abundância, porque nos esquecemos de que quem nos dá uma vida em abundância é Jesus Cristo e isso nem sempre significará estar em um quarto confortável, próximo a quem amamos, mas sempre se refletirá em uma alegria constante, de uma fé transbordante, de um desejo ardente de não parar de pensar em meu quarto confortável que um dia poderei viver o chamado dEle que me dá uma vida em abundância, mas que também posso agir hoje, nesse exato momento; dobrando meus joelhos e orando por todos aqueles que agora não tem um quarto confortável, que não podem ouvir músicas cristãs que nem mesmo tem uma bíblia, mas que tem plenitude de vida (Cristo Jesus e sua paz que excede todo entendimento) e por quem ainda não o conheceu.
Elizama Lima

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sobre o que vestimos..


Eu admito que não sou de comprar roupas, normalmente ganho de algum parente, dos meus pais, amigos, e só de último caso eu saio com intenção de adicionar mais uma peça a meu guarda-roupa. Mas, nesses casos raros - quando me vejo escolhendo alguma roupa – antes de olhar o preço ou o tamanho dela, eu procuro pensar em que ambientes eu vou usá-la. Se é uma roupa pra se usar durante o dia, na faculdade, em situações informais, ou se é uma roupa que usarei na igreja, em algum evento importante, coisas do tipo. O importante é que eu já aprendi que cada situação exige uma roupa, cada lugar ou ocasião também. Não há nada de errado nisso, são nossas convenções sociais, e é muito natural que se reproduza isso no nosso dia a dia. A roupa que saio no domingo à noite não é a mesma que vou usar pra dormir quando chegar em casa; não é confortável, é por isso que nossas roupas são feitas por “encomendas” são próprias de situações específicas.
Contudo, minha intenção não é discutir etiqueta, deixo isso pra quem entende do assunto (não é o meu caso... hehe). Eu estava pensando sobre a vida cristã e me lembrei das roupas. Assim como as calças, blusas, camisas, saias, sapatos, que usamos no nosso cotidiano, lançamos mão também sobre outras formas de nos vestirmos: os papéis sociais. Cada um tem um, e a maioria de nós tem vários. Eles dizem respeito à forma como nos “vestimos socialmente” para compor determinado grupo, trocando em “miúdos”, é o papel que desempenhamos em relação ao nosso grupo. Já parou pra pensar que agimos diferente a depender da situação? Se estou na casa de meus pais, sou “filho”, sou “irmão” e com eles eu tenho um jeito peculiar de me relacionar. Mas se estou na faculdade, visto minha roupa de estudante, não sou lá como sou em casa. Estando em uma pizzaria, lanchonete com alguns amigos, não estou mais vestido nem como filho, nem como irmão, e nem como estudante... sou amigo, e, embora carregue muito de minha essência com todas essas vestimentas, elas não são iguais.
Nada disso de incomoda, isso não é errado, é natural. São nossas estratégias para sobreviver na dinâmica social em que estamos inseridos. Foi quando me lembrei de mais um papel social: o papel de cristão. É aquela vestimenta que uso quando vou à igreja, ao evangelismo, a um show evangélico, o a qualquer atividade do gênero. Mas espera aí? Ser cristão é um papel social? Eu sei que nossos cientistas sociais e do comportamento podem dizer que sim! Há um lugar reservado pra quem é cristão nessa gama de papéis de que nossa sociedade organizada dispõe. O lugar pra ele já está bem acomodado, nós temos mercados específicos, gradações, hierarquias, rótulos, preconceitos,  estereótipos,  perseguições, sentimento de pertença, poder, estatuto, direitos, deveres, tudo o que um grupo social tem direito.
Eu sei que a essa altura do campeonato muita gente pode não ter visto nada de errado nisso, “é assim que deve ser” dirão alguns. Nós transferimos a lógica das vestimentas sociais pra nossa vida cristã, tornamo-la mais uma vestimenta, e apenas uma vestimenta. Vamos ao trabalho a deixamos em casa, vamos à escola e a deixamos em casa, vamos à faculdade e a deixamos em casa, vamos fazer compras e a deixamos em casa. Tornar a vida cristã uma roupa, trouxe consigo outra mentira: a de que podemos ser imparciais, principalmente se nossa profissão depende disso. Já que estamos vestidos com nossas roupas de Psicólogos, advogados, Sociólogos, Filósofos, Teólogos, Historiadores, podemos muito bem deixar essa vestimenta cristã um pouco de lado, ela não combina com todo tipo de roupa. Nos enganamos achando que temos “campo neutro” para aceitar outras formas de admitir a vida só porque estamos vestidos à caráter, com nossas profissões “imparciais”, com nossos olhares “neutros”.
Se você acha que estou sendo radical, é porque você ainda acredita que ser cristão é realmente uma vestimenta social, e não é! Ser cristão é trocar de pele! Por mais que usemos qualquer roupa por cima, não podemos tirar nossa pele, nossa essência. Se eu sou, se você é cristão, entraremos em qualquer lugar e não conseguiremos nos desnudar disso! Qualquer um que tenha rebaixado o “ser cristão” a uma função social apenas, está desqualificando o reino ao qual Cristo nos apresentou. Pelo que sei, esse reino não segue nenhuma das regras desse mundo, têm sua dinâmica diferente, e não é confundido com uma roupa que se coloca e se tira assim que for conveniente. Atentemos pra isso!
Uelington Rocha

domingo, 28 de agosto de 2011

A areia da ampulheta


Há uns meses atrás - em maio pra ser mais preciso - ouvi de uma colega no dia do meu aniversário uma frase que, de início me pareceu bastante engraçada, mas depois provovou em mim uma profunda reflexão. Não exatamente pelo que ouvi, mas posso dizer com certeza que aquilo foi o ponto de partida. Em meio a alguns parabéns daqui, abraços de lá, ela - que é conhecida por seu jeito peculiar de viver, sempre "na dela" - apertou a minha mão e me disse:  "- É.. parabéns! não sei porque a gente parabeniza, né? afinal é um ano a menos que a gente tem de vida a partir de agora.."
Isso me causou umas boas risadas na hora, continuei brincando com ela e, no calor dos abraços, não cheguei a pensar muito sobre aquilo. Só alguns meses depois, após de ter ouvido um professor falando sobre a nossa liberdade em decidir como "gastar" a nossa vida, é que todas essas peças foram se encaixando e eu comecei a pensar sobre como tenho usado a minha vida.
Se pensarmos que Deus já sabe quando nossa aventura na terra vai terminar, já sabe o dia exato em que iremos sair dessa dimensão, a frase de minha colega parecer ter mais sentido. Nossa vida é decrescente, e essa contagem regressiva começa no exato momento em que nascemos.
 Eu me lembro do quanto a sensação de ver um relógio em contagem regressiva pode ser particularmente angustiante. Em um filme de ação, as bombas prestes a explodir são potencialmente apavorantes na medida em que o seu relógio de contagem regressiva está cada vez mais próximo do fim. Nos grandes eventos como nas Olimpíadas ou uma Copa do mundo de futebol é comum que se instale um relógio nas cidade-sede para a contagem regressiva do início do evento, isso também aumenta a expectativa da chegada do grande dia.
Se em todas essas situações  a idéia de que o tempo só diminui e fica cada vez mais apertado pode nos mobilizar tanto, quer seja em um evento esperado ou em uma bomba prestes a destruir tudo, o que dizer do mais poderoso desses relógios? Do relógio que anuncia o 2º evento mais importante de sua vida física: que é o fim dela? Do relógio que liga o dia em que você nasceu ao dia em que tudo isso aqui vai ter fim, ao menos pra você.
Quando imagino o relógio de minha própria vida em contagem regressiva não consigo conter minha angústia, não consigo me livrar do peso que é pensar na possibilidade de estar jogando muito do meu tempo fora, usando ele em coisas sem sentido. Não vou cair na vala comum de achar que só tem sentido aquilo que "parece belo e romântico" aos nossos olhos, quando falo de coisas com sentido ainda não me refiro à filosofia de vida "Haribobo" regada à Pedro Bial e seus poemas, ou a C. F. Abreu e suas receitas pra aproveitar melhor a vida. Eu sou adepto do sentido nas coisas simples e nem tão belas ou glamurosas, ainda acredito no valor das pequenas e tão subestimadas experiências, e sei que delas também temos vivido. Mas é o bastante? Será que eu viveria uma vida medíocre (aqui no sentido não-pejorativo e sim de mediana) se soubesse que ela vai ter fim na semana que vem?
O relógio já está contando, e no meu caso ele está aí há mais de 2 décadas, eu não tenho ideia em que estágio ele está, talvez eu nem consiga terminar esse texto, talvez não termine a minha semana, talvez nunca conclua a faculdade, talvez não chegarei a saber a sensação de construir uma família, ser pai, ou talvez eu tenha bisnetos.
A questão de que já não consigo fugir é esta: Eu gastei minha vida da melhor maneira possível até agora? E termino minha reflexão com um ideal que eu quero perseguir: Usar a minha vida como se o meu relógio indicasse não mais do que poucos dias para chegar ao fim, como se a ampulheta que conta os meus dias estivesse com poucos grãos por cair.
"Atendei agora, vós que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer, Se o Senhor quiser, não só viveremos, como faremos isto ou aquilo." Tiago 4: 13-17
Ps: Esse texto é introdutório, tem continuação nos próximos post's.
Uelington Rocha

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Cuide de sua trajetória

Uelington


Em uma cultura de valor à praticidade, utilitarista, que sempre foi guiada por metas fez-se do caminho, do percurso um detalhe quase insignificante. Um “fim” a qualquer custo desvaloriza os “meios”. Se o mundo diz que “os fins justificam os meios” não há porque se preocupar com os meios. É dessa maneira que aprendemos a viver, é assim que nossa sociedade regula suas atividades, seus objetivos, suas metas. E, se no meio empresarial, quase sempre capitalista, os fins são satisfeitos ainda que por meios desonestos, no reino dos céus não se permite esse tipo de lapso. Isso mesmo! Se no nosso mundo isso acontece e é reforçado, é porque nossos reinos são falhos, mas o que dizer de um reino perfeito, de um mestre perfeito?
Esse modo de ver as coisas parece ter contaminado o modo do cristão ver sua jornada aos céus. O fim que ele quer, em muitos casos não será satisfeito, porque ele está usando os meios errados, está trilhando por vias alternativas, está indo de qualquer jeito. Jesus não deixou dúvidas ao dizer que só há um caminho, e que esse caminho é estreito. Fico pensando sobre essas rotas alternativas, e me lembro que até delas Jesus nos alertou. O sujeito a que Jesus se refere quando alerta: “nem todo o que diz: Senhor, Senhor, estará nos reinos dos céus” me parece ser aquele sujeito que acha o caminho estreito uma opção: “é estreito pra alguns, talvez pra mim não seja”. Mais adiante, quando Jesus continua: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?” eu vejo um sujeito que se enganou sobre seu caminho. Ele tinha certeza de que a rota alternativa também satisfaria o seu alvo principal, ele acreditava que, mirando o fim, pouco importava os meios, pouco importava a qualidade de sua trajetória.
Dizer que a trajetória é importante para a chegada é pouco, se tratamos do reino dos céus é tudo perfeito, por isso digo: a trajetória é condição exclusiva para a chegada! E se ela tem essa dimensão de importância, é dela que devemos zelar, valorar, cuidar.
O reino dos céus é tão diferente de nosso reino que Jesus fez questão de deixar isso claro. Nele, a dinâmica funciona exatamente oposta à dinâmica do reino dos homens. Enquanto em nosso mundo valorizamos a vida “adulta” e suas “responsabilidades”, no reino dos céus Jesus nos manda ser como crianças, enquanto nós valorizamos hierarquias e privilégios, no reino dos céus o menor entre nós é o maior, enquanto valorizamos quem tem mais, Jesus valoriza aquele que dá mais! Isso me faz pensar o que parece óbvio em relação à trajetória: Se por aqui valorizamos carreiras pomposas e cheias de glórias, no reino dos céus a trajetória mais valorizada deve ser a que por aqui foi mais sofrida, mais dolorosa. É disso que a bíblia trata quando se refere aos galardões.
Já que a trajetória é assim, é nela que o inimigo fará suas maiores investidas! As decisões que tomamos no presente compõem nossa jornada, elas moldam esse traçado que decidimos começar a desenhar quando aceitamos a Jesus.
Cuidemos de nosso traçado, zelemos de nossa trajetória. Por trajetória perfeita eu entendo não aquela que nunca se desviou do foco, mas sim a que, por além dos desvios soube retornar ao traçado original, o traçado que segue o legado deixado pelo maior dos mestres e o único com a trajetória perfeita: Jesus!

A linha tênue..


Uelington

Me perguntaram: mas e ai na faculdade...manter um equilibrio espiritual, é tao dificil como dizem ?
Eu respondi:

rapaz.. é sim..
mas veja bem porque: Você está sempre em uma linha tênue, uma corda bamba. Você pode adotar diferentes posturas na faculdade.. por ex:
você pode ser aquele cara irredutível, com a mente totalmente fechada para as novas idéias que vão surgir e que, muitas vezes vão de encontro ao que se tinha por verdade absoluta, é uma postura mais segura, mais recuada. Há quem entre e saia da faculdade sem ser afetado em nada por ela, quase nenhuma experiência, só um diploma e também com uma fé muitas vezes superficial, sem alicerce, porque não foi colocada à prova. Eu acredito que quando nossa fé é provada, ele renasce fortalecida, mas o processo de prová-la é doloroso!
Essa já é a segunda postura: uma postura mais aberta, peito aberto mesmo, ouvindo tudo que seja diferente do que você pensa e confrontando isso com seus ideais. É essa a que eu assumi. Eu acredito que se minha fé for tão pequena, ou tão frágil que não suporte o embate com outra teoria, ela não é válida! Isso é forte de se dizer, mas é nisso que eu tenho me pautado. Acho que é a opção mais dolorosa, mas também acredito que seja a que mais fortalece. Repare que eu vou te falar uma coisa forte agora, blz?
Eu tenho a minha fé! mas eu ainda a tenho porque tenho a plena convicção de que ela faz muito sentido! Faz muito sentido pra mim acreditar na morte de Jesus para salvação de minha alma..
e me coloco à disposição para que ela seja provada..
Não teria a minha fé se eu encontrasse alguma coisa que fizesse mais sentido, entende?
E posso dizer sempre: não tenho medo de me confrontar com outras idéias, porque só quero uma fé que tenha mais sentido do que tudo nessa vida, não quero uma fé alienada, e medrosa..daquelas que qualquer teórico derruba.. uma fé não alicerçada!
Prefiro tomar uma surra e sofrer pra construir minha casa sobre uma rocha! Porque sei que não será abalada..do que construí-la sobre qualquer outro lugar mais confortável e fácil.. foi conselho do próprio Jesus. Veja bem.. eu não quero crer só porque é conveniente, porque é mais confortável, já que meus pais são cristãos, já que nasci convivendo com isso.. não! Eu quero crer porque escolhi crer! Porque ouvi o que o outro lado dizia e ainda assim me convenci de que isso é o melhor pra mim.
Eu estou desse lado porque estou convencido de verdade de que é o melhor lado, de que estou no time mais forte, e com o mais poderoso.
Isso pode soar meio “escorregadio” de minha parte, mas é esse tipo de seguidor que eu imagino que Jesus queira, daqueles convictos, mas cheios de razão pra serem convictos.
O interessante não é só construir a casa (fé) é construí-la sobre uma rocha!

Elizama


Mais escorregadio ainda é o fideismo, a fé pela fé, como se esta fosse um caminho que você tem de trilhar com os olhos vendados só por tê-la mesmo que você corra o risco de cair em um precipício. A fé é melhor que isso, principalmente quando ela está pautada em Cristo, Ele nos chamou das trevas para a luz e não o contrário. Fé não precisa estar separada da razão, o que ela faz é colocar a razão no seu devido lugar. Mas a gente só percebe isso depois que passa por essa linha tênue, que questiona o mais profundo do nosso ser, nossas verdades, suscitando dúvidas e nos sentimos os piores dos seres humanos porque tudo vai divergir do que aprendemos ser verdade.  É o momento de responder a questões que nos recusamos a refletir se não estivermos na corda bamba: porque creio? O que me levou a crer? O que me faz crer? Quero ou não, acreditar?
E o vazio que tudo isso traz em nosso ser, a falta de algo ou alguém que te tornava completo, nos faz perder o foco da vida, nossas perspectivas mudam, a vida fica sem sentido, é a “escuridão da alma”, e sentimos falta da pureza da fé e como já ouvi dizer e percebi claramente “pureza da fé, vale mais que o ouro”. É aí que está a necessidade que sentimos de desejá-la, de não perdê-la, de mantê-la a qualquer custo, já não nos sentimos tão fortes como antes. É aí que desejamos nos apegar a Cristo, o autor e consumador da nossa Fé. É o autor que desejamos, é ele que amamos, e percebemos que era Ele que estava ausente no “escuro da alma”. E quando os dias passam reconhecemos que a vida sem ele não tem sentido, achamos a resposta, o sentido da vida. Resposta para a pergunta que muitos filósofos, cientistas, historiadores, teóricos, psicólogos e tantos outros procuram e não encontram, porque não sabem que fé e razão podem andar juntas, mesmo que às vezes uma tente atropelar a outra.